15 de maio de 2013

Curto-circuito

Existem horas e horas. Horas em que tudo vai perfeitamente bem e que nossa visão do mundo é a melhor possível. Outras horas, menores, menos significativas, onde os circuitos se estressam e se queimam.


Logo eu que pensava que podia tudo. Pena que meu corpo, às vezes, não concorda com as minhas premissas, liga o alarme, dá curto-circuito e diz que está na hora de parar.

Não sou a única obviamente. O nosso corpo fala em diversas linguagens para lembrar que está ali para acompanhar, persistir, até gritar quando necessário e pedir arrego. Pois então. Depois de uma maratona de aventuras no além mar, o corpo não aguentou a minha tentativa corajosa de subir com uma mala pesada por 4 andares de escada. Ele fez tric-tric, trincou e ai, doeu.

Se percebêssemos como nossos corpos traduzem situações, nossas histórias, momentos em dor, em males, poderíamos rapidamente reparar e entrarmos novamente em linha corporal e de alma com a vida. E nos curarmos pelo auto-conhecimento.

Vejamos: essa pequena fissura da costela que me causou uma sensação dolorida, febre, mal estar, cansaço, como interpretar? Fiquei de cama sem poder me movimentar muito, aguardando o tempo passar e absorver a trincada.


Uma ajuda na tradução de comportamento corporal é sempre bem vinda. Portanto, intrometa-se mesmo que de longe. Imagine um corpo irradiando energia e que, de repente, recolhe-se e se "parte". Que partida seria essa?

Partidas, quebradas existem. Como existem chegadas, junções. Eu havia passado três semanas longe do meu ninho, conhecendo mundos novos, passando por aventuras, trocas diversas, muitos aprendizados e estava na hora de partir....Ah, partir no significado mais literal da palavra. Meu corpo não resistiu à proximidade do momento do adeus. Meu corpo e alma se dividiam entre dois países e dois mundos e, a cada despedida, dor. Normalmente a dor se ancorava na alma. Dessa vez, a dor tomou o corpo como se quisesse me avisar de que a escolha nunca seria simples para mim. Mesmo vivendo pluralmente.


A pluralidade da vida é a possibilidade de se adaptar e gozar de intensa alegria de maneiras distintas.   É interessante perceber que podemos criar vínculos dentro do nosso próprio terreno de nascença e sobrevivência, como em terrenos escolhidos pelo coração.

Respiro fundo agora. Nem tão fundo, porque ainda dói bastante a costela fissurada. Não posso rir, tossir nem fazer grandes movimentos. Além disso, preciso de repouso. Lá no hospital da Holanda, eles me perguntaram se eu realmente teria que ir, teria que voar de volta ao Rio de Janeiro. A minha resposta foi sim. Talvez eu quisesse responder também que não. Depois de me examinar, perceberam que eu estava com febre, pressão alta (já não tinha há muito tempo), ofegante, cansada - exame de sangue, urina e raio x imediatos. Ali deitada na maca eu não tinha noção do que me acontecia, só queria me livrar da dor. E o corpo gritando para me fazer entender a dificuldade da partida.

Será que entendemos as interdições do corpo? A linguagem corporal num todo? Paramos e entendemos o que é que o corpo quer nos falar? Eu me fazia os questionamentos dentro do avião no retorno, pois foi a hora em que me dei conta de que a fissura não tinha ocorrido por conta própria, nem gratuitamente. Era fundamental me questionar. É sempre fundamental nos questionarmos sobre as interdições da alma e do espírito, dois elementos poderosos.


Pergunto-me, perguntando você. O corpo se cala? Os circuitos se fecham? Será que realmente nos damos conta da interação entre alma e corpo?

Não posso responder por você, respondo por mim. Sou uma apaixonada pela vida, nos casamos e vivemos felizes. Há dias que me faz falta a Holanda onde morei. Noutros dias, na Holanda, saudades do Brasil, do Rio de Janeiro. Mesmo formando um par heterogêneo, as cidades e as culturas fazem seu habitat dentro de mim.
Viver é uma delícia em todos os minutos, apesar das pontadinhas da costela. Essas me fazem lembrar que eu pulso, que meu sangue ferve por dentro e entra em ebulição vez por outra.
Sou extremamente agradecida por viver e viver em aprendizado eterno. Pois é dessa forma que me coloco para o universo. Aberta para o conhecimento, aberta para as experiências. Eterna aprendiz.


E posso dizer mais? Sou feliz também nos momentos de curto-circuito. Reparo mais em mim nesses momentos, me dou conta das possibilidades diversas. Como se fosse um alarme dizendo: acorde, seja feliz sempre.


Não reclamo, até debocho de mim mesma. E dou risadas das "quebradas" da vida.
Obrigada, Deus, aí de cima, sei que olha por mim. Sei que me oferece as quebradas para reuni-las em festa mais adiante.

Meu desejo é que todos nós tenhamos a consciência de nossa vida e que, qualquer que seja o momento, possamos celebrar a felicidade. Felicidades minúsculas, pequenas, médias, grandes. Celebrar todos os tamanhos possíveis, porque, senão a vida passa, e permanecemos em expectativa.

Permita-se portanto o curto-circuito temporário. Inicie o nosso projeto.
Enquanto isso, me restabeleço e escrevo. Escrever me cura de todos os males. Aqui estou eu e lá vamos nós.



Beijos rejuntadinhos.

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Beijos
Vera Lorenzo

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